quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Arnaldo Baptista- Loki?


    Arnaldo Baptista, para quem não ainda não conhece, fez parte de uma das maiores bandas de Rock Progressivo do país, Os Mutantes. A banda era composta por Sérgio Dias (guitarra, baixo e vocais); Rita Lee (vocais); Liminha (baixo); Dinho Leme (bateria) e Arnaldo (teclado, guitarra e voz). Mas na minha opinião, Os Mutantes cresceram e foram para uma outra fase (que particularmente me agrada mais musicalmente) bem mais progressiva e Arnaldo compôs um dos discos que fora considerado um dos melhores da década de 70 nacionalmente.
     A história de vida de Arnaldo é bem loki e interessante e pode ser conferida no documentário de 2008 com o título de Loki- Arnaldo Baptista com direção de Paulo Henrique Fontenelle com diversos relatos sobre a trajetória desse músico. O YouTube possui uma versão fragmentada do filme, que pode ser visto a seguir:



    Porém, não estou aqui para falar sobre o documentário. Estou aqui para falar do álbum que trouxe essa alcunha para Arnaldo, que havia saído dos Mutantes e seu relacionamento com Rita Lee estava finalizado e enterrado, mas apenas para um dos lados. Arnaldo sofreu um surto psicótico (não acredito que essa seja a verdadeira expressão, acredito que os termos "bad", "loucura" talvez se apliquem) que ficou brilhante chamado de Loki.
     O que mais gosto da palavra Loki é que ela remete à loucura e ao irmão de Thor (que também tem o seu quê de Loki). Enfim, desvairos a parte. O álbum é uma excelente composição de 10 canções que possuem nuances únicas. O mais curioso do álbum solo de Arnaldo pós Mutantes é que o Mutantes não havia saído de fato dele, pois todos os músicos da banda participaram da gravação do disco. Rita Lee participou do vocal de duas músicas e o resto da banda ficou no apoio dos outros instrumentos.
     A obra inicia com uma angústia de Arnaldo com Será Que Vou Virar Bolor?, ou seja: O medo de ficar sozinho, sem se mexer, deixando a bad te vencer, de simplesmente virar um fungo. Mas Arnaldo tem muito mais a falar nessa canção do que sobre a solidão. Ele critica a nova onda do rock com o Alice Coopper e finaliza a canção mostrando um rock'n'roll de raiz com uma pegada bem blues com um teclado bem Jerry Lewis.
    Uma pessoa só é a única música que fora creditada aos outros membros da banda e começa com uma aura de balada romântica ao teclado que vai adquirindo uma pegada mais densas ao se usar bastante trinatos e arpejos. Claramente a canção aborda a questão da banda que são todos numa pessoa só. Arnaldo cita o álbum "O A e O Z" do Mutantes e canta: "Você também está tocando/ Você também está cantando" que pode ser visto como uma forma de dizer que a banda não funciona mais como antes, mas que continuam unidos.
    Eu não estou nem aí é a canção da volta por cima de Arnaldo após quase morrer durante seu período Loki e que ele afirma não mais temer a morte, a sorte. Arnaldo afirma que quer decolar toda manhã, isso- ao meu ver- é uma referência ao uso de entorpecentes (pois a analogia que se faz quando as pessoas estão doidas de drogas é que a nave decolou). Nessa canção e na próxima Vou Me Afundar Na Lingerie são as duas participações de Rita Lee.
    A quarta música é um retrato da tentativa de superação do relacionamento dele. A quinta música Honky, Tonky (Patrulha do Espaço) é uma composição instrumental belíssima, apesar de curta. Mostra a faceta mais sóbria de Arnaldo ao trazer um teclado aos moldes dos bares de Honky Tonk que é um estilo musical derivado do Jazz e que tocava nos estabelecimentos de caráter duvidoso.
     Após a pausa de sobriedade, Arnaldo vem com Cê Tá Pensando Que Eu Sou Loki? que é uma mostra de um pouco da vida dele e de suas coisas e loucuras. A dúvida que o próprio nome da música pode gerar é que: Será que ele está tentando convencer a ele mesmo que não é Loki ou será que ele quer nos convencer de que não é?
    Arnaldo cita um evento que acontece no Nordeste que é a Cilibrina (a grafia pode ser com "S" ou com "C"), evento cujo mote é anunciar a chegada das festas juninas. Nessa festa se tem bastantes fogos de artifício, guerra de espadas, cachaça e muito pífano. Mais sobre essa celebração popular, pode ser vista a seguir:



    Desculpe é a sétima música e é um grande desabafo com um excelente sintetizador. Por mais que seja um pedido de desculpas, com um grande apelo ao reconhecimento de erros, Arnaldo reconhece que é apenas humano e que possui falhas, mas que há erros de todos os lados. Navegar De Novo é a canção mais melancólica do disco (tem uma pegada bem Beto Guedes no seu início) e que não aborda apenas a questão do eu que sofre, mas também da sociedade que sofre (Acredito que essa música tenha bastante influência da fase de Atlas de Drummond). Mesmo sofrendo, Arnaldo não deixa o seu lado Loki de fora ao soltar um grito bem diferente dos convencionais.
    Quando Arnaldo fala o nome da música, percebe-se que ele faz um sotaque bastante português. O que me faz remeter a duas referências estritamente portuguesas, a primeira é Fernando Pessoa que escrevera o poema Navegar é preciso e a segunda são as navegações portuguesas que rumaram ao incerto em busca de novos lugares. Independente de qual fora a real intenção de Arnaldo, fica nítido que ele quer rumar novos mares, curtir novos ventos e seguir para o próximo destino que é incerto.
    Te Amo Podes Crer é a penúltima música dessa obra e é umas das mais complexas, pois possui muitas variações rítmicas ao longo. É a canção de quem tomou um pé na bunda, mas que tem esperanças de que no final vai dar tudo certo e ambos ficarão juntos no final. É Fácil encerra esses 33 minutos de diversão e angústia de maneira feliz com o virtuosismo de Arnaldo num violão de 12 cordas e que finaliza com a junção do acústico com o eletrônico ao brincar com um sintetizador no final e com a alternância das saídas do som. Espero que gostem desse álbum. Até a próxima!

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