quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Ellen Oléria- Peça


    Esse é o primeiro álbum da carreira de Ellen Oléria. Nascida aqui em Brasília, lá de Taguatinga bem perto da Ceilândia; na região do Chaparral. Ellen se formou na Universidade de Brasília no curso de Artes Cênicas e seu dote musical fora desenvolvido de uma maneira bem auto didata. 
    Ellen ganhou diversos festivais de música da cidade, como o FINCA (Festival Interno de Música Candanga da UnB); Prêmio Sesc Tom Jobim de Música e o Festival e Música dos Correios. Cada uma dessas competições, Ellen ganhou pelo menos duas vezes. Mas o "festival" que Ellen ganhou que a colocou de maneira absoluta no setor comercial da música nacional fora o The Voice- Br do canal de televisão Rede Globo.
    Ellen entrou no programa (que estava na sua primeira temporada) interpretando uma música de Jorge Ben- Zumbi. Durante sua apresentação, os quatro jurados viraram suas cadeiras para ela. Ellen optou entrar para o time de Carlinhos Brown e fora a grande vencedora do programa.
    Mas antes de colher os louros do The Voice, Ellen batalhou bastante no cenário musical do DF para conseguir se consolidar. Ela fora backing vocal do rapper GOG aqui na cidade e começou a sua carreira de maneira mais solo ao se juntar com a banda Pre.utu que tem Célio Maciel na bateria; Paula Zimbres no baixo; Pedro Martins na guitarra e Felipe Viegas no teclado. Com essa banda, gravaram esse disco em 2009.
    Ellen, mulher, negra, homossexual e de periferia transporta todas essas questões para sua música de uma maneira bem dura, como se fosse um tapa na cara da sociedade mesmo. Ela escancara a porta do preconceito de um jeito firme em sua voz, mas com um jogo de palavras bem montado.
    Peça é um disco que possui diversas influências musicais, desde o rap até a bossa nova e a MPB. Acordes precisos, harmonias bem construídas levam esse álbum para a gente. A obra começa com Posso Perguntar? que conta a história da pessoa amada indo embora e como a gente fica triste quando isso acontece, mas tudo isso com uma voz doce e linda. Bateria sincopada e acordes de violão bem tocantes.
    Mandala já mostra o lado que Ellen quer mostrar para o grande público da periferia, a falta de oportunidades, da vontade de sair daquele lugar. Tudo isso, com um clima um pouco mais acelerado do que a primeira música.
   Testando fora a primeira música que ouvi dela ao vivo numa apresentação que ela abrira para o Gilberto Gil aqui em Brasília lá no Centro de Convenções (e o melhor de tudo: fora de graça). Essa canção que tem uma pegada bem Rap e mostra as contradições da sociedade, especialmente a do DF. Fala da insegurança que as mulheres tem ao andar de noite pelas ruas, das pessoas que mudam de lado ao passar por ela, entre outras coisas relatadas na música.
    Senzala (A Feira da Ceilândia) é um retrato social bem marcante entre a dicotomia entre camelódromos e os shoppings. Numa clara analogia entre a Casa Grande (Shopping) e a Senzala (Feiras da periferia) e que a feira se faz importante para a comunidade local como forma de entretenimento e compras.
    Brado e Ato II são músicas mais intimistas e que tratam a vontade de soltar aquele grito de dentro do peito, mas que se sabe que não será escutado por ninguém. A outra música traz realidades da periferia, como assistir à televisão e a sensação de insegurança que não é proveniente apenas dos bandidos, mas também da polícia que age de forma truculenta nas classes mais baixas.
    Após os momentos intimistas, Só Para Constar quebra esse clima e vem de forma gostosa e cadenciada, lembrando bastante a bossa e um pouco dos sambas antigos. Natural Luz é a oitava canção deste trabalho e traz bastante referências ao cerrado, não apenas ao usar a palavra cerrado, mas relatando algumas árvores típicas daqui.
    Não-lugar é uma bela canção de desilusão amorosa de caminhos que não continuam e tem que continuar separados. Prólogo é uma música instrumental curta com uma pegada de forró pé-de-serra que introduz para Forró de Tamanco que como o próprio nome diz é um forró para se bater o tamanco no chão. Essa é a única música que não fora composta por Ellen e tem uma pegada mais rock'n'roll no meio da canção.
    Pedro falando Com o Reflexo é uma música que expressa bastante o estilo de voz e musical de Ellen que lembra bastante a música Jack Soul Brasileiro de Lenine. O álbum termina com Senzala (Remix) que tem a participação do Gog pelo o que pude notar, mas não achei em nenhum lugar confirmando isso. Mas a voz parece bastante com a dele.
    Espero que gostem do disco e do que a cena de Brasília tem a oferecer.
     

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