segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Boogarins- Manual (ou Guia Livre de Dissolução de Sonhos)


    Boogarins, banda de Goiânia formada em 2012 por Dinho Almeida (vocais e guitarra rítmica), Benke Ferraz (guitarra solo), Raphael Vaz (baixo) e Ynaiã Benthroldo (bateria). A banda começou com um EP intitulado "As Plantas Que Curam" em 2012 pelos amigos de infância Dinho e Benke.
    Com o passar das divulgações das músicas da banda que estavam nesse EP, como: Lucifernandis, Erre, entre outras. A gravadora Other Music viu o trabalho dos jovens de Goiânia e decidiu assinar um contrato com eles. Por isso, já em 2013, "As Plantas Que Curam" deixou de ser apenas um sonho dos amigos de infância e passou a ser realidade; concretizando-se em um álbum homônimo com dez músicas. Quatro músicas a mais do que no EP.
    Boogarins vem nessa nova leva que o Rock vem passando, especialmente as produções nacionais. Além deles, pode-se citar bandas, como: O Terno, Carne Doce, Banda do Mar, entre outras. Boogarins já havia me conquistado com Lucifernandis e todo o seu jeito psicodélico e progressivo.
    Ver uma banda jovem e com essa pegada não mais tão explorada desde o aparecimento do pop é gratificante demais. Obviamente que eles não possuem a pretensão de ser um novo Mutantes, pois os tempos são outros. Mas o trabalho é de excelente qualidade e pode crescer cada vez mais.
    Após o lançamento do disco em 2013, banda excursionou pela Europa e EUA em mais de 70 shows e participou de festivais alternativos gringos, como: South By Southwest (Texas, EUA) e Primavera Sound (Barcelona, Espanha). Participou do Lolla aqui no Brasil de 2015 e está como uma das atrações do Levitation (Texas, EUA) em 2016. (Esse festival tem como Headliner, Brian Wilson- ex Beach Boys- tocando o Pet Sounds na íntegra) 
    No ano que passou, a banda lançou o seu segundo trabalho, "Manual (ou Guia Livre de Dissolução de Sonhos) que inicia com Truques, música instrumental de 44 segundos que serve como uma introdução para Avalanche.
    A segunda música começa com um espírito bem progressivo na guitarra, pois a banda não possui teclado. A toada da música é que a modernidade com seus prédios colossais nos tirou o prazer de poder olhar o Sol e nos aprisionou "nesse labirinto de tédio".
    Tempo tem a mesma ideia de letra de Avalanche, mas a harmonia ficou deveras interessante, pois a banda soube aproveita o tempo inclusive nos silêncios após cada verso, dando uma marcação mais quadrada na música num aspecto mais macro e mais ralentado nas partes cantadas. A ponte para a segunda parte cantada da música é bem mais solta, leve.  
    Tempo traz essa ideia de buscar uma vida mais leve, sair das coleiras que nos prendem, viver sem temer e sobre a banda tem um pedido para as pessoas que curtem o som dela no seu sítio eletrônico oficial. A banda quer que as pessoas mandem vídeos com duas temáticas: O mundo dos homens e O seu santuário. Quem sabe você não pode aparecer no novo clipe deles?
    6000 dias (Ou Mantra dos 20 anos) é a quarta música desse álbum e como o nome é bem explicativo, mostra o que banda cujos integrantes possuem essa faixa etária pensam e almejam para sua vida e fica nítido no último verso da música que pode servir como um mantra para a vida toda: "Sem saber que o que importa para mim é ser/ Não ter"
    Mário de Andrade/Selvagem são duas músicas em uma só. Isso fica bem nítido após uma transição de bateria por volta dos dois minutos , onde a música deixa de parecer uma balada e ganha um ar mais salvagem, mais robusto. Passei dias tentando compreender qual a relação do poeta Mário de Andrade do Modernismo Brasileiro com selvagem. Em muitas das minhas elucubrações, comecei a imaginar que fosse uma referência à Macunaíma- obra mais famosa de Andrade- que é a história de um índio (por isso o selvagem) que faz de tudo para se dar bem. Daí comecei a pensar que poderia ter relação ao antropofagismo cultural vigente nessa época e depois revisitado no Tropicalismo. Mas só tenho dúvidas e poucas certezas, quem souber de algo: #AjudaLuciano
    Falsa Folha de Rosto é a sexta música do disco que carrega uma energia reverberante e contagiante que parece que cabe em um abraço com uma letra bem platônica e que parece boba, mas que carrega muitos sentimentos.
    Benzin mostra um lado mais onírico da banda que parece que se iniciou na música anterior e retoma a ideia do Sol e que perdemos a chance de não contemplá-lo devidamente. Mostra bem o sentimento de uma pessoa jovem, sonhadora que quer abraçar o mundo, mas tem receio de abandonar aquele "bando que amo aqui". Mas no fundo, no fundo mesmo. Você quer ir ver o Sol e sabe que terá conforto quando voltar.
    San Lorenzo tem uma pegada bem praiana. Percebe-se muitas influências da Surf Music e dos Beach Boys, especialmente com os sons de gaivotas (ou outros seres alados) bem praianos. Fui procurar no google e ver se San Lorenzo era uma praia também, além de ser o time de futebol argentino pelo qual o Papa Francisco torce. Descobri que tem uma praia em Gijón (Espanha) com esse nome. A referência deve ser de lá então, pois a banda fez uma turnê na Europa e passou pela Espanha inclusive.
    Cuerdo, Sei lá e Auchma são as três últimas músicas do disco. Suas letras são bem pequenas que mesmo que se juntasse todas, não daria uma música "convencional" inteira. Mas são excelentes músicas para te conduzir para o final dessa viagem que fora esse álbum.
    Cuerdo é uma palavra em espanhol e que segundo a tradução do Google, significa sensato. Auchma parece ser uma palavra de origem alemã. Auch significa mesmo, também. Se juntarmos as três últimas músicas em português, fica algo assim: Sensato, sei lá, também. Tem jeito melhor de fechar esse álbum do que com a dúvida?
    Pois a juventude é uma eterna dúvida. O que fazer? O que buscar? Será que eu sirvo para isso? Dê o play e vem curtir essa energia. O novo álbum da banda, pode ser escutado em seu site oficial também.  

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